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Kendorrhea

Random and useless personal thoughts on things that have nothing to do with nobody, like kendo, iaido and the like
Sunday, January 15, 2006

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2006 - Ano Novo, mesma demora


Passo um tempo sem mexer neste blog e quando noto já virou o ano. Antes de mais nada, Feliz Ano Novo para quem lê este blog (se é que ainda tem algum louco que lê isto aqui).

Notei que essa história de manter um blog é só para quem realmente gosta e/ou para quem tem um bom tempo livre em mãos. Atualizar isto aqui dá mais trabalho do que eu tinha imaginado quando comecei este blog.

Notei também que estou soando como se fosse um blogger de verdade.

Mas, para que este post não fique com cara de blog diarinho mesmo, vou postar dois textos que eu disponibilizei no Orkut e em uma lista de e-mail. São textos que eu considero muito bons, versando sobre a parte espiritual do kendô e do kenjutsu.

O primeiro texto é do Mochida Seiji (Moriji) sensei. Para quem não sabe, ele foi um dos maiores expoentes do kendô no século XX. Foi também um dos vencedores de um dos torneios imperiais de kendô e um dos primeiros a ganhar o 10o dan (atualmente extinto). Apenas a título de curiosidade, ele também foi um mestre de koryû kenjutsu, algo que nem todos sabem.

O segundo texto é do Shirai Tooru sensei. Ele foi um dos "três corvos" do estilo
Nakanishi-ha Ittô-ryû e fundador do Tenshin Ittô-ryû. A história dele é muito interessante: ele foi invencível nas lutas de shinai kenjutsu (o precursor do kendô moderno como conhecemos hoje) e achava que tinha atingido o ápice da arte. Aí, um dia, ele teve que largar o dojo em que ele dava aula por causa da saúde da sua mãe e voltou para sua terra natal. Depois que viu que a mãe estava bem, ele resolveu visitar um dos companheiros mais velhos de treino dele, o famoso(?) Terada Gôuemon. Ele já tinha uma idade bastante avançada para a época, mas mesmo assim os dois concordaram em fazer uma luta para ver como estava o nível do outro. Para a surpresa do Shirai, o Terada simplesmente arrasou com ele. E isso porque o Shirai era mais jovem, mais forte, mais rápido e supostamente invencível em shinai kenjutsu. Pasmo, ele perguntou como ele tinha perdido. E aí, o Terada fala que o Shirai aprendeu um kendô errado esse tempo todo e, se quisesse entender realmente de kendô, ele teria que abandonar tudo e começar literalmente do zero.

Aí entra a grandeza dos dois: o Terada ao falar essa verdade na cara do Shirai e ao mesmo tempo se dispor a ajudá-lo, e o Shirai, ao admitir essa verdade e ter humildade para recomeçar tudo de novo. Como resultado, o Shirai atingiu um nível elevadíssimo dentro da arte. E ele escreveu algumas de suas considerações em um escrito chamado Hyôhô Michishirube, que é dividido basicamente em duas partes: a primeira, que é mais ou menos uma biografia dele (incluindo a historieta acima), e a segunda, que é uma explanação que ele dá sobre o kendô. É um texto sensacional que eu acho que deveria ser obrigatório para qualquer pessoa que treine kendô ou kenjutsu. O texto abaixo dele vem desse escrito.

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"Eu acredito que o kendô não é para cortar pessoas
É para cortar os pensamentos negativos que surgem dentro de si
Para desenvolver um espírito que jamais se abala em qualquer situação
Para burilar o corpo, a mente e o espírito
Para nascer a sabedoria luminosa,
A força de vontade resoluta e firme
e um temperamento gentil e pacífico
Para sempre guardar o mútuo respeito entre mestre e discípulo
Para treinar, buscando um espírito e uma técnica mais elevadas
Para conhecer o propósito de existência do ser humano e
trilhar o grande caminho que um ser humano deve trilhar
e com isso beneficiar o mundo."

(Mochida Seiji, 1885-1974, 10o dan Hanshi de kendô)

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"(...) A elevação máxima do espírito e a verdade suprema são o que nós chamamos de 'Caminho', a compreensão disso é o que chamamos de 'Virtude' e a sua execução é o que chamamos de 'Grandeza Humana', aquilo que nos difere de meros animais.

Dentro da minha arte (kenjutsu), chamamos de 'utilizar a Arte' quando o praticante de artes marciais emprega as suas técnicas calcadas na Tríade acima citada.

'Utilizar a Arte' é vivenciá-la e comprazer-se nela, através de técnicas que devem ser sempre manifestações das Virtudes Supremas, do Caminho, da Grandeza Humana e da Misericórdia e Compaixão.

Atualmente, os praticamentes e professores de artes marciais ignoram por completo os meios de despertar e entrar em contato e se tornar Um com esses Elementos Maiores, afirmando que 'treinar a Arte' e 'utilizar a Arte' são aperfeiçoamentos contínuos de técnicas através de treinamentos rigorosos e sofridos. Essa visão é oriunda de perspectivas mesquinhas e visando vantagens para si, como por exemplo conhecer e dominar meios e estrategemas para derrotar o oponente. Como algo tão baixo assim pode ser chamado de 'utilizar a Arte'?

Um praticante só pode ser considerado que dominou a Técnica quando ele está sempre em sintonia com a Verdade e com as Virtudes. E, quando está em uma luta mortal, onde as espadas já estão cruzadas, ele manifesta a sua Essência Divina que permeia todo o Universo para conter os movimentos do seu oponente, e ele emana a sua Luz radiante para aplacar o ímpeto do seu adversário, sempre agindo de acordo com a máxima elevação de espírito, livre de todas as amarras mundanas que porventura poderiam prendê-lo. (...)"

("Hyohô Michishirube 兵法未知志留邊 - Kan no Shita" - "Os Marcos Indicativos do Caminho dentro das Artes Marciais - Parte Final", Shirai Tooru, 1783-1843)

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