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Kendorrhea

Random and useless personal thoughts on things that have nothing to do with nobody, like kendo, iaido and the like
Wednesday, August 03, 2011

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Nakayama Hakudô e o kamae (postura) de Jôdan


Acho que a maioria das pessoas que já praticaram kendô ou iaidô alguma vez na vida já ouviu falar de Nakayama Hakudô (1872-1958). Foi um dos grandes mestres de kendô, iaidô e jodô no período imediatamente antes da Segunda Guerra Mundial. Ele foi Hanshi , título máximo da Dai Nippon Butokukai - ao contrário de hoje, na época o título de Hanshi estava acima dos graus, portanto não havia coisas como 8o dan Hanshi e afins.

Nakayama chegou a publicar algumas obras, assim como o mestre dele, Negishi Shingorô, representante (Sôke) do estilo Shintô Munen-ryu. Mas muita coisa permaneceu na oralidade, até que o filho dele, Nakayama Zendô (Yoshimichi/Nobukichi) compilou os ensinamentos de seu pai. Só que, ao contrário do pai, Nakayama Zendô "deixou de existir" no mundo do kendô após a Segunda Guerra e por causa disso, essa compilação permaneceu totalmente ignorada por muito tempo.

Foi só no final da década de 80 que Inamura Eiichi, um dos discípulos de Nakayama pai e filho, trouxe esse material para o público. E a revista Kendo Nippon, da edição de abril de 1988, revelou alguns trechos desse material. Tem muita coisa interessante, mas desta vez gostaria de apresentar apenas um pequeno trecho referente ao uso do jôdan.

Se atualmente o jôdan é um kamae que não é tão raro de se ver (basta citar o exemplo do Shôdai), antigamente era um kamae de exigências extremamente elevadas. E Nakayama Hakudô critica justamente a ignorância que se passou a ter com relação à verdadeira natureza do jôdan. É essa parte que está traduzida a seguir.

A tradução é minha, como de costume.

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(...) O Jôdan se refere a um kamae (postura) extremamente imponente e dominador, insuflando o medo no oponente através de uma pressão tal que suas técnicas, seu espírito e sua força ficam completamente anuladas, não restando outra alternativa ao adversário exceto sacrificar a sua própria vida em um último ataque.

Para se chegar a este nível, é imprescindível passar e sobreviver por provações extremamente árduas e rigorosas durante o treinamento. É um kamae tal que somente pode ser compreendido por aqueles que alcançaram o nível de mestre.

Uma pessoa jamais pode assumir este kamae só porque treinou meros trinta, quarenta anos. O jôdan dessas pessoas sempre está cheio de suki (abertura para ataque) e, para piorar, essas pessoas ficam avançando e recuando, indo para frente e para trás de forma extremamente patética, esperando por uma oportunidade fortuita para ter a sorte de acertar um golpe. Isso não é jôdan. Isso nada mais é do que ficar com a espada sobre a sua cabeça. Desde os tempos antigos, chama-se a isso de "jôdan de espantalho". [N.T.: ou seja, assim como um espantalho, só tem pose.]

Para se ter uma ideia, na época em que eu estava na ativa (até a primavera de 1944), subdividia-se o grau máximo de Hanshi em quatro níveis, de A (máximo) a D (mínimo). E apenas um Hanshi nível A conseguia usar o jôdan - e ainda mal e mal, tal a exigência que esse kamae possui.

Em outras palavras, apenas aqueles de mais elevada capacidade podem efetivamente utilizar esse kamae. Assim sendo, um praticante imaturo utilizar este kamae sofisticado contra o seu mestre ou contra os companheiros mais velhos de treino é de uma falta absurda e abismal de respeito e é também uma prova irrefutável da sua arrogância monumental. Gostaria de deixar claro de que uma atitude dessas demonstra que está fazendo de um completo idiota a pessoa à sua frente, com consequências extremamente graves. Acho que agora é possível entender por que antigamente as pessoas pediam desculpas, falando "goburei shimasu" [N.T.: literalmente, "peço desculpas pela falta de respeito"] antes de entrar em jôdan, mesmo diante de uma pessoa do seu nível.

Tem muitos outros fatores envolvidos, mas gostaria de parar aqui com as minhas críticas e pedir para que as pessoas estudem e se aprofundem mais. Gostaria apenas de dizer que o treinamento não deve pensar apenas em golpear a pessoa à sua frente. Existem muitas outras coisas essenciais além do golpe em si e elas devem ser levadas em consideração quando do treino. (...)

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